O Simbolismo brasileiro, movimento literário que emergiu no final do século XIX, representou uma ruptura com as correntes realista e parnasiana, privilegiando a subjetividade, o espiritualismo e a exploração do mundo interior. Marcado pela busca do transcendente e pela expressão de estados de alma, esse movimento encontrou no Brasil vozes notáveis que traduziram, por meio de uma linguagem repleta de musicalidade e sugestão, anseios universais e inquietações metafísicas.
Iniciando oficialmente com a publicação de “Missal” e “Broquéis”, de Cruz e Sousa, o Simbolismo no Brasil não se limitou à poesia, embora tenha sido nesse gênero que mais profundamente floresceu. Caracterizou-se pelo uso intenso de metáforas, sinestesias e aliterações, construindo uma atmosfera de mistério e introspecção que contrastava fortemente com o objetivismo e a forma perfeita valorizados pelos parnasianos.
Principais Autores e Obras
Entre os expoentes do Simbolismo brasileiro, destaca-se Cruz e Sousa, considerado o maior representante do movimento. Suas obras Missal (prosa poética) e Broquéis (poesia) são marcos fundadores, explorando temas como a angústia existencial, a espiritualidade e a dor da condição humana, frequentemente através de imagens como o cisne, símbolo de pureza e sofrimento.
Outro nome significativo foi Alphonsus de Guimaraens, cuja poesia é marcada por um misticismo cristão e uma atmosfera de melancolia e transcendência. Sua obra Dona Mística e os Setenários das Dores de Nossa Senhora refletem uma busca pela união entre o humano e o divino, com linguagem etérea e sugestiva.
Características Estéticas
- Subjetivismo: Valorização do mundo interior, das emoções e dos estados de alma.
- Musicalidade: Uso frequente de aliterações, assonâncias e ritmos que aproximam a poesia da música.
- Sugestão: Preferência por evocar sensações em vez de descrever objetivamente.
- Simbolismo: Emprego de imagens como cisnes, cores e elementos naturais para expressar ideias abstratas.
Influências e Contexto Histórico
O Simbolismo brasileiro bebeu diretamente das fontes do movimento francês, especialmente de poetas como Mallarmé e Baudelaire, mas soube desenvolver uma identidade própria ao incorporar elementos da cultura nacional e das particularidades sociais da época. Surgiu num período de transição entre a abolição da escravatura e a proclamação da República, refletindo tanto o desencanto com a realidade quanto a busca por novos signific existenciais.
Outros Representantes
Pedro Kilkerry, muitas vezes considerado um precursor, trousse inovações formais e temáticas que anteciparam características simbolistas, enquanto Emílio de Meneses, embora mais conhecido pelo parnasianismo, apresentou momentos de forte carga simbólica em sua produção.
Linguagem e Recursos Expressivos
A linguagem simbolista privilegiava a sugestão sobre a descrição, utilizando-se de:
- Sinestesias: Fusão de sensações de diferentes sentidos (“cheiro azul”, “som dourado”)
- Metáforas complexas: Construção de imagens que transcendem o literal
- Alienação do cotidiano: Criação de universos paralelos e atmosferas oníricas
- Vocabulário erudito: Emprego de termos raros e arcaísmos para criar efeito de estranhamento
Recepção Crítica e Legado
Inicialmente recebido com resistência pela crítica mais afeita ao rigor formal parnasiano, o Simbolismo brasileiro acabou por influenciar profundamente as gerações posteriores. Sua ênfase na subjectividade e na exploração do inconsciente antecipou preocupações que seriam centrais no Modernismo, especialmente na primeira fase do movimento modernista.
O movimento simbolista preparou o terreno para a revolução estética que viria com a Semana de Arte Moderna de 1922, ao questionar convenções literárias e valorizar a liberdade expressiva. Muitos de seus procedimentos técnicos e temáticos podem ser identificados em autores posteriores como Manuel Bandeira e Cecília Meireles.
Conclusão
O Simbolismo brasileiro constitui um marco fundamental na evolução de nossa literatura, representando a transição do objetivismo para a valorização do subjetivo e do transcendental. Ao romper com as convenções realistas e parnasianas, este movimento não apenas ampliou os horizontes expressivos da poesia nacional, mas também preparou o terreno para as inovações modernistas que surgiriam nas décadas seguintes.
Dicas para Estudo
Para compreender profundamente o Simbolismo brasileiro, recomenda-se: focar na análise dos principais símbolos recorrentes (como o cisne, as cores e elementos naturais); comparar poemas de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens para identificar diferenças de abordagem temática; e estudar as inovações formais, especialmente o uso de sinestesias e aliterações, que são marcas distintivas do movimento. É crucial entender como o contexto histórico de transição entre Monarquia e República influenciou a produção simbolista, gerando essa busca por transcendência frente às incertezas da época.
